A espécie Myrciaria glazioviana (cabeludinha) pertence à família Myrtaceae, nativa do brasil, habitando naturalmente a Floresta Atlântica, principalmente os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Seu auge da frutificação ocorre em outubro, mas pode se estender até o final de dezembro, coincidindo com os festejos de Natal e Ano-Novo; aliás, nessas festas as frutas exóticas, como a cereja, pêssego, ameixa, entre outras, são mais frequentes que as nossas nativas – cereja-do-rio-grande, grumixama, uvaia e a cabeludinha -. Não é fácil compreender como a cabeludinha, uma fruta tão gostosa e com o sabor semelhante ao do pêssego (exótico), seja tão pouco conhecida e cultiva, cenário completamente oposto ao de suas “irmãs”: jabuticaba, goiaba e pitanga, que já agradam ao gosto popular.
Seu fruto é subgloboso, amarelo, cabeludinho (tomentoso), medindo de 2 a 4 cm; ocorrendo a frutificação de outubro até o mês de dezembro. As flores são brancas, formadas geralmente de maio a julho, já as folhas são finas e alongadas, medindo aproximadamente de 3-12 cm, também são tomentosas assim como os frutos, mas somente na parte inferior.
Por se comportar como arbusto e arvoreta, somado ao seu tronco ramificado e de coloração marrom-claro, é muito indicada ao paisagismo, tanto pela sua beleza quanto para a utilização como cerca-viva, uma vez que tolera podas, sem comprometer o seu desenvolvimento.
É uma espécie muito fácil de ser cultiva, não atingi grandes alturas, podendo chegar até seis (6) metros. Não possui tantas exigências, mas precisa da incidência de sol e regas regulares, suprindo essas necessidades, é possível ser cultivada em vasos, desde que tenha cuidado para que o solo não se torne compactado. Além de quintais e pomares, a cabeludinha pode ser plantada nas calçadas, porque além de não crescer muito, seus frutos atraem as aves.
O plantio ocorre através de sementes, recomenda-se que seja plantado logo após o consumo da fruta, para aumentar as chances de germinação. Um solo adubado com estercos curtido, mais a adição de vermiculita, ajudam a acelerar o crescimento da muda, além de manter o solo mais areado.
O consumo pode ser ao natural, em forma de suco, geleia, bolo, pudim, pavê, entre outros doces. Muitos cultivadores utilizam o fruto em bebidas alcoólicas, como a caipirinha, por exemplo.
Sendo assim, busquem mudas ou sementes nos viveiros e com os produtores para a realização do plantio. Não deixe de conhecer essa fruta deliciosa, afinal, ela merece ganhar mais destaque nos quintais, pomares e feiras.
Referência
Lorenzi, H; Lacerda, M, T, C; Bacher, L, B. 2015. Frutas no Brasil nativas e exóticas: (de consumo in natura). Instituto Plantarum de Estudos da Flora LTDA. Nova Odessa, São Paulo, 768 p.
As frutas já amplamente conhecidas – pitanga, goiaba e jabuticaba, possuem um espaço considerável nos quintais das casas brasileiras. Pode-se afirmar que o araçá-amarelo (Psidium cattleianum) e o vermelho (Psidium cattleianum var. purpureum), assim como as frutas citadas, estão entre as espécies mais populares da família Myrtaceae.
O araçá-amarelo é nativo do bioma Mata Atlântica e habita, principalmente, as florestas de planícies como as restingas e vegetação de praias. Em todo o litoral, desde o estado do Ceará até o Rio Grande do Sul, seus espécimes ocorrem de forma espontânea. Nos estados do nordeste brasileiro, acima do Ceará, como Piauí e Maranhão, também são possíveis encontrá-los, ainda que em menor quantidade. O araçá-vermelho, que também pertence ao bioma Mata Atlântica, tem a sua formação natural na Floresta Ombrófila Mista, inserida nos Estados de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul.
Características
Tanto o araçá-amarelo quanto o vermelho podem se desenvolver na forma arbórea ou arbustiva. O crescimento do araçá-amarelo pode chegar a nove (9) metros, e o do vermelho pode ultrapassar os 11 metros.
O tronco dos araçás se assemelha ao da goiabeira, descamam como a maioria das espécies da família Myrtaceae, são lisos e parcialmente alaranjados; o tronco do araçá-amarelo mais claro em relação ao vermelho.
O araçá-amarelo tem as folhas verdes, opostas, simples e brilhantes, semelhantes às folhas de grumixamas (outra espécie irmã dos araçás). Ainda, suas folhas possuem glândulas translúcidas, isto é, são possíveis de serem visualizadas quando postas contra a luz. Essas glândulas, que podem ser uma célula ou um conjunto de células, têm a função de armazenar ou segregar óleos e outros produtos. No caso dos araçás, por estarem geralmente próximos ao mar, precisam utilizar as glândulas também para expelir o excesso de sal trazido pelos borrifos do mar.
O araçá-vermelho difere do araçá-amarelo na coloração da folha porque as suas são no tom verde mais escuro.
As flores de ambos são solitárias e brancas, aliás, a cor branca é a mais comum nos representantes desta família.
O fruto do araçá-amarelo é do tipo baga (possui várias sementes), globoso e liso. Em contrapartida, o fruto do araçá-vermelho é menor e com formato subgloboso, ou seja, um pouco mais achatado. Ambos os araçás podem apresentar também frutos em formato piriforme.
Plantio
O araçá não é exigente em relação ao solo, pois esta autora já obteve bons resultados, recentemente, no plantio de mudas com pelo menos um (1) metro de altura, em áreas alagadiças, secas, com pouca ou nenhuma adubação. Além disso, em plantios de recuperação florestal, essa espécie suportou as duas últimas geadas ocorridas no ano passado (2021). Prefere o sol pleno ao sombreamento, mas este fator não impede seu crescimento, porém, pode acarretar em um crescimento mais lento.
É evidente que plantios com solos mais adubados, principalmente com adubo de esterco de galinha, folhas secas provenientes de florestas, tornam o solo mais saudável, o que acelera o crescimento e consequentemente a floração e frutificação do araçá.
Um fator importante é o tempo de armazenamento das sementes, pois o ideal é plantar até dois dias após a colheita, em razão da perda rápida do poder germinativo. Pode ser plantado em bandejas de sementes, tubetes ou saquinhos. O mais importante é deixar um solo leve, cobrir as sementes com uma fina camada de terra e por último a rega. Uma dica importante é misturar na terra o mineral vermiculita, que contribui para a retenção de líquido, areação do solo, fatores esses muito importantes que ajudam a não compactação do solo e facilitando assim a germinação.
Já para as mudas jovens o ideal é abrir um berço mais profundo, para que as raízes possam se fixar melhor e absorver mais os nutrientes, dando assim maior proteção a elas. Além do plantio poder ser realizado em áreas de florestas, nas bordas das mesmas e em áreas secas, é possível também em áreas com incidência de alagamentos esporádicos. Para esses locais, indica-se o plantio na forma de montículos, que consiste em fazer um “morro” de terra adubada para que dessa forma as raízes possam ter menos contato com o acúmulo de água, isso, pelo menos nos primeiros anos do plantio.
A floração ocorre de outubro a dezembro e a frutificação ocorre entre os meses de janeiro e março, sendo o último mês o ápice da frutificação. Cabe lembrar que nos primeiros anos a frutificação poderá ocorrer em meses diferentes dos citados, uma vez que fatores ambientais podem antecipar ou atrasar a floração e frutificação.
Usos
O fruto é uma delícia, uma mistura de sabor doce com um toque azedinho ao final da mordida. É de fácil consumo, por não ser muito grande; basta colher e comer, com uma ou duas mordidas já são o suficiente para saboreá-lo por inteiro. Também é indicada a sua utilização em doces de todos os tipos, como bolos, tortas, geleias, sorvetes, e tudo mais que a sua imaginação criar.
Triste Realidade
Apesar do Brasil ser o país de maior biodiversidade, ainda, as frutas exóticas são mais populares que as nossas frutas nativas. O cultivo inexpressivo entristece e nos empobrece culturalmente, tirando não somente a chance de experimentar nossas frutas, mas também como diz na música do Djavan: “semente nativa germina bem à vontade”. De fato, nossas frutas nativas se desenvolvem de forma mais natural, necessitando menos intervenções.
Dessa forma, quem puder plante no seu quintal ou inclua nos seus projetos de reflorestamento, assim, alimentará a avifauna, que por consequência dispersará as sementes, o que contribuirá na perpetuação das espécies.
Referências
Sampaio, D; Souza, V, C; Oliveira, A, A; Paula-Souza, J; Rodrigues, R, R. 2005. Árvores da Restinga: guia ilustrado para identificação das espécies da Ilha do Cardoso. Editora Neotrópica, São Paulo, 277p.
Lorenzi, H; Lacerda, M, T, C; Bacher, L, B. 2015. Frutas no Brasil nativas e exóticas: (de consumo in natura). Instituto Plantarum de Estudos da Flora LTDA. Nova Odessa, São Paulo, 768 p.
Vamos conhecer mais uma fruta nativa da Mata Atlântica!!!
A espécie Eugenia brasiliensis (grumixama-preta) pertence à família Myrtaceae, sendo considerada uma de nossas cerejas brasileiras. É uma fruta nativa do Bioma Mata Atlântica, com distribuição do Sul da Bahia até Santa Catarina. É muito saborosa, possui um adocicado na medida certa e um leve azedinho ao final da mordida.
Além da grumixama-preta, existem outras variações e espécies de grumixamas, como por exemplo, a de coloração vermelha (Eugenia brasiliensis var. erythrocarpa); grumixama-amarela (Eugenia brasiliensis var. leucocarpa); grumixama-anã (Eugenia itaguahiensis); grumixama-mirim (Eugenia longipedunculata) e grumixama-peluda (Eugenia neosilvestris). Essas outras variações e espécies de grumixamas são de porte menor e raramente ultrapassam os seis metros de altura, sendo a amarela e mirim, também muito conhecidas e produzidas em pomares.
Em meus tempos de produção de mudas arbóreas, muitos clientes costumavam dizer: “gostaria de muda de grumixama, afinal, ela não cresce muito e ainda assim produz muitos frutos”. De fato, existem as grumixamas anãs, amarela e vermelha, já mencionadas e que raramente ultrapassam os seis metros, mas a grumixama-preta, que é a mais desejada e conhecida por ser a mais doces entre todas, ultrapassa facilmente os 15 metros de altura. A foto abaixo demonstra um espécime dessa com mais de 15 metros.
Entre as representantes das Myrtaceaes, sem dúvida a grumixama-preta é uma das mais fáceis de se identificar em campo, o que é possível de ser realizado mesmo se ela estiver sem o fruto. Isso porque suas folhas são alongadas e brilham em ambas as faces.
Suas flores são brancas e solitárias e se formam, geralmente, durante o período de final de agosto a outubro. Seus frutos são lisos, brilhantes e geralmente compostos por até cinco sementes. Ainda, apresentam formatos globosos-achatados; sua frutificação pode ocorrer de novembro a dezembro e em alguns casos se estendem até janeiro.
Por ser uma fruta que frutifica ao final de cada ano, poderia ser mais popular nas mesas dos brasileiros, principalmente nas festas de natal e ano novo, pois além de poder ser consumida ao natural, é ótima para doces, licores e até suco. Podemos mudar um pouco esse cenário e popularizar ainda mais essa fruta deliciosa e de fácil plantio e manejo.
Como plantar!!!
O plantio pode ser realizado por enxertia¹ ou por sementes, sendo esta última a melhor forma, uma vez que garante a maior longevidade do espécime. O ideal é plantar as sementes ainda úmidas, pois maior será a chance de sucesso da germinação – com o passar dos dias as sementes vão perdendo o poder germinativo.
Em viveiros, é muito comum plantar as sementes inicialmente em camas de areia, e após a germinação, as mudas são transplantadas para os saquinhos ou tubetes. Ainda, alguns viveiros utilizam bandejas para auxiliar a organização das raízes e facilitar o transplante para o local definitivo ou em vasos.
Para os plantios domésticos, é super recomendável plantar em tubetes, saquinhos ou diretamente em vasos. A porção de insumos poderá ser dividida entre terra adubada e uma camada menor de areia. Insira as sementes não tão fundas, depois cubra com mais um pouco de terra e regue-as. Da germinação até o brotamento pode durar até dois meses; deve-se protegê-la do sol direto até que se alcancem os primeiros 60 cm. Após, esse crescimento inicial, é possível plantá-la no local definitivo, que este sim, precisa de sol, rega constante e um solo bem adubado – até que a muda atinja uma altura de 1,50 m.
É necessário se ater aos cuidados básicos de rega, adubação e monitoramento e possíveis pragas. Um bom defensivo natural para a prevenção de pragas é o óleo de Neem, extraído da semente do fruto de neem. É indicada a pulverização nas folhas sempre no amanhecer ou no entardecer. Jamais faça isso sob sol quente pois poderá queimar as folhas. Outra informação importante é nunca pulverizar em períodos de floração e frutificação. Em aproximadamente dois anos é possível que a grumixama já esteja frutificando.
O local definitivo da grumixama-preta pode ser diverso, pois essa espécie progride bem em áreas que sofrem algum tipo de alagamento. Também, ela é uma espécie que tolera baixas temperaturas. Enfim, ela é bem versátil e merece ser mais cultivada, não só por todas as razões aqui apresentadas, mas porque está cada vez mais raro encontrá-la em seu habitat natural.
Por fim, caso seja de interesse, existem viveiros que produzem mudas de grumixama no Estado de São Paulo. É possível, com sorte, encontrar alguns indivíduos dessa espécie durante as caminhadas pela Mata Atlântica.
Nota
Operação que consiste em inserir um botão, ramo ou rebento de uma planta em outra sobre a qual ela continua a viver. O enxerto permite a reprodução e a multiplicação das árvores ou dos arbustos florais ou frutíferos. Fonte: Dicionário Aurélio.
Referência
Lorenzi, H; Lacerda, M, T, C; Bacher, L, B. 2015. Frutas no Brasil nativas e exóticas: (de consumo in natura). Instituto Plantarum de Estudos da Flora LTDA. Nova Odessa, São Paulo, 768 p.
Continuando a série “Frutas Nativas da Mata Atlântica Pouco Conhecidas ”, nada mais coerente com as épocas de festas de fim de ano do que escrever sobre a uvaia (Eugenia pyriformis Cambess).
A uvaia, também conhecida como ubaia, uvalha, uvaieira, é outra fruta, que assim como a cereja-do-rio-grande, goiaba, araçá, jabuticaba, dentre tantas outras, são representantes da família MYRTACEAE, que é umas das famílias com mais representantes de espécies frutíferas no Brasil.
Nativa da Mata Atlântica, a uvaia está presente nas regiões Sul e Sudeste; muito suculenta e que lembra o gosto da uva logo na primeira mastigada (na minha opinião), é, porém, um pouco mais azedinha (mas um bom azedinho).
Rica em vitamina C, pode ser consumida ao natural, tarefa que pode não ser tão fácil: será preciso competir com a aviafauna, que é mais rápida e não deixa muito para nós humanos. Também é muito utilizada para fazer suco, geleia, compota, sorvete, doces em geral, licores, caipirinhas e bases para molhos e vinagres. Por tudo isso já é considerada uma fruta importantíssima para o sustento de muitas famílias.
Além da furta ser gostosa e suculenta, é linda, variando da cor amarelo para o alaranjado, possui indumento na parte externa da casca (tipo de pelos), o que a deixa com aspecto aveludado, macio e muito delicado.
O seu uso no paisagismo é muito comum, uma vez que seu tronco apresenta um tom que vai do laranja ao avermelhado quando descasca (característica da família myrtaceae). É muito atrativa, podendo se ramificar desde a base ou após atingir uma certa altura, trazendo beleza para os jardins.
Por raramente ultrapassar os 15 metres de altura, é indicada plantar nos quintais, calçadas e pomares., as raízes não prejudicam a calçada, desde que tenham uma profundidade de berço considerada. Quem quiser utilizar em projetos de reflorestamento, saibam que essa espécie é indicada para áreas alagadiças, contanto que o berço seja feito na forma invertida (como se fosse um morro de terra), isso irá proteger as raízes na fase inicial do plantio.
Sobre as informações morfológicas: as folhas são pequenas, simples, opostas, elíptica (que são mais largas na parte central), além de serem aromáticas. As flores são brancas, com pedúnculos (cabinho que sustenta a flor) axilares, ou seja, localizadas na junção entre o caule e a folha. O seu tronco descama e apresenta um tom que varia do alaranjado para o avermelhado. O fruto, que tem formato de arredondado a piriforme, mede de 2 a 5 cm de diâmetro, pode apresentar mais de uma semente.
Vamos valorizas nossas frutas Nativas. Abaixo seguem as informações para quem gostou e deseja plantar muitas uvaias por ai!!!
Solo: Rico em matéria orgânica (esterco curtido/húmus) e com boa umidade. Entretanto, germina também em solos pobres como os argilosos, desde que, posteriormente, seja transplantada em solo rico em matéria orgânica.
Semente: Colher quando o fruto estiver bem maduro (os de caídas são ideais), despolpar (aproveite e coma a fruta) e plantar a semente direto em tubetão, saquinho ou vaso. O ideal é plantá-la imediatamente, não sendo recomendado o seu armazenamento, pois a semente não tolera perda de umidade. Após a plântula apresentar altura mínima de 50 cm, poderá plantar no local definitivo.
Germinação: 40 a 60 dias após o plantio. Existem estudos que indicam que mesmo com a semente danificada (partida) as plântulas germinaram normalmente.
Sol: Pleno ou meia sombra.
Crescimento: de moderado a lento (Secundário inicial). Geralmente leva de um a dois anos para atingir o primeiro metro.
Frutificação: Frutifica de 1 a 2 anos, sendo considerada uma frutificação precoce.
Altura: 5-15 metros,
Distribuição: Sul e Sudeste do país, natural da mata atlântica.
Época: conforme a região onde situa-se, floresce e frutifica em diferentes épocas do ano, mas geralmente a floração inicia nos períodos de agosto a dezembro. O que tenho observado em algumas cidades do estado de São Paulo, é que floresce de agosto a setembro e frutifica de outubro a dezembro.
Referências:
Mattos, J. R. Myrtaceae do Rio Grande do Sul. Roessléria 6, n. 1, p. 163-167, 1984.
Silva, C. V.; Bilia, D. A. C.; Maluf, A. M.; Barbedo, C. Fracionamento e germinação de sementes de uvaia (Eugenia pyriformis Cambess. – Myrtaceae). Revista Brasil. Bot., v. 26, n. 2, p. 213-221, 2003.
Hoje falarei sobre a cereja-do-rio-grande (Eugenia involucrata), mais uma fruta nativa representante da família Myrtaceae.
Quando pensamos em cereja, com certeza nos vem à mente a cereja comum presente nas festas de fim de ano (Prunus avium); o que muitos não sabem é que existem outras cerejas nativas do Brasil, e que são tão saborosas quanto a cereja-do-rio-grande, assunto deste post.
O que mais chama atenção dessa espécie é a delicadeza de sua árvore e a beleza de seu fruto, que é lindíssimo, gostoso e apresenta um leve sabor de azedo. É atrativo tanto para a fauna quanto para nós seres humanos. É delicioso em diversas preparações: in natura, geleia, compota, musse, bolo, suco e tudo mais que a criatividade nos permitir. O tamanho do fruto varia de 4 a 6 cm e pode apresentar vários formatos. Os que pude constatar na época que trabalhava com produção de mudas nativas, foram os seguintes: periforme, alongado e arredondado. A cor do fruto é uma beleza à parte, pois alterna entre vermelho e vinho escuro, além de possuir um brilho incrível.
A sua árvore possui tronco liso, descamante, assim como a maioria das espécies da família Myrtaceae, já a coloração de seu tronco varia entre o cinza e a terracota, e o que determina essa cor são os componentes do solo e a incidência de luz (quanto mais luz incidente mais claro será o tronco).
A copa da árvore geralmente é arredondada, com folhas simples e opostas (lembra as folhas da pitanga). Ainda com relação às folhas, estudos apontam para sua ação antioxidante, além do seu uso medicinal, indicados para tratar problemas digestivos e inflamatórios. As flores são brancas e com quatro pétalas, que geralmente aparecem no mês de setembro, concomitantemente com o surgimento das novas folhas, após as velhas caírem no inverno. A polinização ocorre por mamangavas e abelhas; aliás, nos meus tempos de viveiro pude observar muitas mamangavas ao redor dessa árvore.
A cereja-do-rio-grande pode atingir até 15 metros de altura, porém, como é uma espécie secundária tardia (de crescimento lento), levará anos para atingi-la. Por essa razão, é muito indicada em paisagismo, calçadas, quintais, pomares e reflorestamento. Por ser nativa da Mata Atlântica, é de extrema importância que seja plantada em restauração ecológica e reflorestamento, sempre intercaladas com outras espécies pioneiras.
Gostou da cereja-do-rio-grande? Se sim, abaixo seguem as especificações para o plantio e germinação:
Solo: Rico em matéria orgânica (esterco curtido/húmus) e com boa umidade.
Semente: Colher quando o fruto estiver bem maduro, retirar a casca e plantar a semente direto em Tubetão, saquinho ou em vaso. Pode ser armazenada por poucos dias (até 3 dias no máximo), pois não tolera perda de umidade; Após estiver com uma altura mínima de 50 cm, poderá plantar no local definitivo.
Germinação: 30 a 50 dias após o plantio.
Sol: Pleno ou meia sombra.
Crescimento: Lento (Secundário Tardio). Geralmente leva de um a dois anos para atingir os primeiros 50 cm.
Altura: 5-15 metros,
Distribuição: Sul e Sudeste do país, natural da mata atlântica.
Referências:
Lorenzi, H. 2002. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil. Instituto Plantarum Ltda. Nova Odessa, São Paulo. 4 ed. vol. 1, 368 p.
Degenhardt, J., Franzon, R. C., & da Costa, R. R. 2007. Cerejeira-do-mato (Eugenia involucrata). Embrapa Clima Temperado. Pelotas, Rio Grande do Sul. 1 ed. 22 p.
Se não conhece deveria conhecer, pois além de delicioso, é um fruto nativo da Mata Atlântica. O araçá-piranga (Eugenia leitonii) será o primeiro da série: “Frutas Nativas da Mata Atlântica Pouco Conhecidas”
A Eugenia leitonii é uma espécie pertencente à Família Myrtaceae, de grande importância em nosso país, tanto pela sua enorme quantidade de árvores frutíferas, quanto por ser a quarta maior família em número de espécies. Sobre as diversas frutíferas dessa família, além dos vários tipos de araçás, temos também as mais conhecidas, como as jabuticabas, jambolão, pitangas e, claro, a goiaba. Aliás, goiabão é outro nome popular dado ao araçá-piranga, dada sua semelhança com a goiaba em termos de forma e tamanho.
A colheita do araçá-piranga ocorre nos meses de fevereiro e março, com seu ápice no mês de março. É importante consumi-la bem madura, para evitar a sensação de amargor na língua. Nunca colha tudo; sempre deixe uma parte para a avifauna, responsável em perpetuar e propagar a espécie.
Além de possuir um fruto delicioso, o araçá-piranga é indicado para o paisagismo, pois surpreende pela beleza de suas folhas verdes escuras e principalmente, por seus galhos e tronco de cor ferrugem; é um espetáculo à parte. A intensidade da cor ferrugínea é determinada pela época da frutificação e intensidade da luz, que não precisa incidir diretamente sobre a árvore, visto que é uma espécie de crescimento lento e de interior de mata.
Mesmo com todas essas características, o araçá-piranga é extremamente raro nas matas devido à grande devastação do seu habitat natural. Por essa razão, abaixo seguem as especificidades da espécie para quem quiser plantar e ajudar a aumentar a quantidade de indivíduos por esse Brasil.
Solo: Rico em matéria orgânica (esterco curtido/húmus) e com boa umidade.
Semente: Colher quando o fruto estiver bem maduro, retirar a casca e plantar a semente direto em Tubetão, saquinho ou em vaso. Após atingir altura mínima de 50 cm, poderá plantar no local definitivo.
Sol: Pleno ou meia sombra.
Germinação: Demora em média 3 meses para germinar após o plantio.
Crescimento: Lento (Secundário Tardio).
Altura: 8-15 metros.
Distribuição: Sudeste e sul do país, natural da mata atlântica.
Referências:
Lorenzi, H. 1992. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil. Instituto Plantarum Ltda. Nova Odessa, São Paulo vol. 1, 398 p.
Giulietti, A. M; Harley, R. M; Queiroz, L. P. D; Wanderley, M. D. G. L; Berg, C. V. D. Biodiversidade e conservação das Plantas no Brasil. Megadiversidade. Bahia, v.1, 2005.
Detalhe das folhas. Fonte: própria.Fruto maduro em destaque. Fonte: própria.
Mangabas trazidas pelo meu pai da safra de novembro de 2015.
O que seria de nós adultos se não fossem as nossas referências da infância?
Como já falei aqui no post anterior, aproveitei bastante a minha fase de criança com diversas brincadeiras de rua. Além das brincadeiras, os cheiros e gostos também foram importantíssimos para minha formação, e um cheiro e gosto que amo e me é familiar vem da fruta mangaba. Eu conheci essa fruta através do meu pai quando estávamos de férias na casa da minha avó paterna, na cidade de Estânica município do estado de Sergipe.
A árvore mangabeira (Hancornia speciosa) é nativa do Brasil e natural da Caatinga, Restinga e do Cerrado, sua distribuição se concentra mais na região do Nordeste. No entanto, ela é encontrada em maior quantidade na terra do meu Pai, no Estado do Sergipe, tanto é que a árvore mangabeira é considerada símbolo do Estado. Diversas cidades de Sergipe obtêm suas rendas com a colheita da fruta que ocorre de novembro a junho. Do fruto podem ser produzidos: sucos, bolos, licores, vinhos, xaropes, geleias, mousses, pudins, sorvetes e o que sua imaginação criar.
Não é só porque me remete a infância que eu gosto tanto da mangaba, ela é realmente divina, fato é que seu nome em tupi guarani significa “coisa boa de comer”. Ela tem um gosto doce com um toque azedinho no final. Fora o sabor incrível, essa fruta é riquíssima em vitamina C e se já não bastasse tudo isso, o látex que é produzido do tronco e das folhas da árvore da mangaba tem poderes medicinais como na melhora de fraturas, herpes, Tuberculose e da úlcera.
Como vocês podem ver na foto acima, o fruto da mangabeira é amarelinho com manchas vermelhas. As mangabas podem ser colhidas de duas formas. A primeira é direto do pé, devendo-se as enrolar em um jornal e aguardar dois dias, aproximadamente, para o seu amadurecimento e consumo. A segunda forma é as colher direto do chão, sendo chamadas de “mangabas de “caída”; essa forma de colheita é a mais valorizada e gostosa, pois depois de quatro horas já está molinha e pronta para o consumo. Eu presencie na infância uma “chuva de mangaba“ e foi uma das coisas mais lindas que eu vivi.
Quem quiser plantar a árvore da mangaba deve saber que a semente tem que estar fresca e molhadinha, ser plantada em solo arenoso e bem drenado. Como os solos arenosos são pobres em nutrientes não se faz necessário adubar e tão pouco irrigar com muita frequência, pois essa espécie é adaptada a locais muito quentes e com escassez de água. Após cinco anos do plantio ela começará a dar frutos.
Bom pessoal, é isso, espero que todos experimentem a mangaba quando visitarem Sergipe ou outros estados do Nordeste.
Obs.: as informações da fruta mangaba foram fornecidas pelos meus familiares de Estância-SE e por consulta a dados de bases científicas.
Minha infância foi maravilhosa, muitas brincadeiras de rua, minha querida queimada e claro também teve a brincadeira de subir nas árvores.
Eu tinha uma em especial, ela não era e ainda não é muito comum, mas a minha primeira e querida árvore foi o ingá branco (Inga laurina). Curioso é que o ingá não é o fruto mais comentado por aí, o mais normal é escutar as pessoas falarem que na sua infância apanhava frutas como: manga, jaca, fruto do conde, carambola, entre muitas outras.
Onde morei por quase toda a minha vida não tinham essas árvores na rua, mas tinha o ingá. O fruto do ingá é muito atrativo para os morcegos, mas para nós, seres humanos não muito.
Não sei o que me fez gostar do ingá, talvez pelas sementes serem ensopadas, envoltas por uma deliciosa polpa, que lembra um algodão molhado.
O ingá é uma árvore muito coringa, aguenta alagamentos e está presente em diversos ecossistemas brasileiros, como: Floresta Atlântica, caatinga, cerrado e na restinga.
Apesar das literaturas descrevem a frutificação do ingá branco entre os meses de novembro a março, sabe-se que a frutificação depende de fatores externos, como temperatura, chuvas e qualidade do solo. Mas se quiser experimentar o ingá, busque entre os meses de novembro a maio que será garantido.
Na minha rua era sempre no mês de maio, eu e a criançada subia nas árvores do ingá branco, e saíamos de sacolas cheias. E mesmo assim, sobrava muitas para os morcegos. É por momentos simples como esse, que me fazem lembrar a minha infância com muito carinho.
A fotossíntese! É isso mesmo, pois é ela que produz os açúcares e libera o oxigênio como subproduto essencial para a vida de todos os seres, inclusive o nosso. É claro que as plantas não são importantes somente por esses dois fatores. Há outros como alimento, vestuário, madeira, medicamento, a própria água e uma infinidade de outras coisas.
Cabe ressaltar que não são só as plantas que fazem a fotossíntese, mas também as algas e algumas bactérias, porém em proporções muito menores.
Tudo que as árvores são e nos fornecem hoje é resultado de um longo processo da evolução. Sobre esse processo, acredita-se que todos os seres vivos vieram de um único ancestral comum, e que possivelmente tratava-se de um micróbio com DNA da mesma forma como acontece até os dias de hoje com os fungos, plantas ou animais.
As plantas iniciaram no ambiente aquático (assim como muitos dos seres vivos) e com o passar de milhares de anos foram migrando para o ambiente terrestre, possivelmente porque a água limita a penetração da luz e a concentração de CO2, fatores importantes para a fotossíntese.
Entretanto, a mudança de ambiente não foi uma tarefa fácil, afinal, na água as plantas não necessitavam de estruturas, ao contrário do ambiente terrestre, que exigiu adaptações. Por exemplo, uma estrutura para fixar-se ao solo possiblitando a captura de água e sais minerais, e outra aérea para a realização da fotossíntese. A partir dessas adaptações, foram surgindo uma complexidade de estruturas, como a ramificação dos galhos, um tronco principal para o transporte dos sais minerais, folhas e muitas outras que estão até hoje em constante evolução.
As primeiras a migrarem para terra foram certamente as briófitas, conhecidas por muitos como musgo, aquele verdinho fixado nas rochas que já fizeram os mais desatentos escorregarem e caírem. Muita gente não sabe, mas ao analisarmos as briófitas com uma lupa por exemplo, vemos uma verdadeira floresta, com os seus talos, folhas e suas estruturas fixadoras. Após as briófitas/musgos, podemos dizer que vieram as pteridófitas sendo representadas pelas belas samambaias, gimnospermas tendo como um de seus representantes os pinheiros e por último as angiospermas representadas pelos espécimes que produzem flores e frutos.
É extraordinário que dentro de uma floresta tropical, existe todas as etapas desta evolução, e o Brasil mesmo sendo a maior diversidade do planeta terra não trata de forma respeitosa e zelosa nossos ecossistemas.
Depois desta pequena introdução sobre a evolução da plantas, espero que o proverbio “quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, o homem irá perceber que dinheiro não se come (Greenpeace)” não se torne realidade e possamos enxergar a importância da natureza e das árvores antes que seja tarde.
Viva o dia da árvore!
Referências
H. Lorenzi & E. G. Gonçalves. Morfologia Vegetal. Editora Plantarum. Segunda Edição, 546p.
P. H. Raven; S. E. Heichhorn; R. F. Evert. Biologia Vegetal. Editora Guanabara Koogan. Oitava Edição, 876p.